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Ruinas, mortes, sofrimento: paisagem para selfies?

junho-2015-editorial

O mundo todo ficou estarrecido com a destruição de várias cidades do Nepal. A televisão de todos os países, sempre ávidas para noticiar desgraças, encarregou-se de mostrá-la à exaustão. Milhares de vidas foram perdidas, sendo que nem o governo nem a população estavam prevenidos; essa é a justificativa que se conhece.
Quando se vive em uma região reconhecidamente sujeita a tremores como essa, é estranho afirmar que a população foi colhida de surpresa; que isso ocorra com os pobres e ignorantes, que são maioria, vá lá; porém, o mesmo não se pode dizer dos que “governam” o país.
Os especialistas acreditam que a desgraça seria menor se os responsáveis cuidassem adequadamente do imenso patrimônio artístico e cultural das centenas de templos que faziam talvez a única riqueza do país. Sismo (terremoto) é um fenômeno da natureza, que ocorre onde as condições se prestam à sua eclosão. Há pessoas (e não são poucas), ainda muito distanciadas das conquistas científicas, que chegam ao cúmulo de afirmar que se trata de castigo divino. Se castigo houve, os culpados estão por aqui, na Terra mesmo.
Como estamos lidando com a incúria de seres humanos vamos analisar a conduta adotada por grupos de turistas que perambulavam pela cidade visitando o que sobrou de muitos templos. Vários jornais fotografaram-nos junto às ruinas da torre Dharahara, um monumento do século 19 totalmente destruído. Esses folgazões passeavam alegremente entre a destruição, portando grande e moderna variedade de equipamento fotográfico para levar lembranças da viagem, como se ali ainda houvesse recordação agradável. Enquanto isso milhares haviam morrido e outro tanto agonizava entre os escombros. Em que essa linda juventude estava preocupada todavia? Deixar temporariamente de lado sua confortável situação de turistas e empregar parte de seu tempo para auxiliar a população desamparada na busca de desaparecidos, de feridos e de mortos? Não! Preferiram criar uma paisagem apropriada para “selfies”, esse moderno narcisismo fotográfico que atualmente enche os egos de quem se ilude com a sua aparência exterior sem observar, prioritariamente, se possui algum valor interior que justifique tamanha vaidade.
Em resumo, leitor, em que consiste viver? Em aprimorar a nossa fraternidade ou em deificar brinquedos eletrônicos, rapidamente convertidos em sucata, a fim de alimentar a voracidade dos que só visam lucros e desfigurar, a cada época que passa, nossa condição de humanos? Como a esperança é a última que morre, aguardemos confiantes no surgimento de uma “superprincesa Isabel” para nos libertar desse novo modelo de escravidão.

Luiz Santantonio – santantonio26@gmail.com